terça-feira, 9 de agosto de 2011

Perseverança (primeira parte)

  Sentar-se sobre o banquinho, ajeitar os livros abaixo dos pés; abrir o piano, descobrindo as teclas; abrir o caderno de partituras, colocá-lo no suporte. Toda esta meticulosa arrumação para apoiar os longos dedos magros sobre as teclas frias: e só. Nenhum som. Nenhuma vontade. "Nenhum erro", pensava.
  Até que, diante do silêncio, aparecia a mãe: "Mas porque não tocas? Tens que praticar!" e não obtinha resposta... "Toca!", gritava. Num sobressalto, a criança começou a tocar.
  Os acordes soavam bem, a melodia fluía, até que... "pléinnn". Uma nota errada acabava com a magia. E quem tocava voltava a pousar os dedos nas teclas, ficar inérte.
  "Que houve? Volta a tocar! Foi apenas um deslize, continue! Eu desisto... Apenas espere o Davide..."e bateu a porta às suas costas. A criança encolheu-se sobre o banquinho, abraçando os joelhos nús. Chorava.
  Ao ouvir a voz do professor que cumprimentava a mãe, susto. Pisando nas teclas, se empoleirando na tampa do piano-de-armário. Esperou por alguns segundos o som da maçaneta girando, enquanto ouvia o eco do lamento das teclas a pouco pisadas.
  "Konstantine?" chamou a voz grave e doce do professor. Olhava envolta, como se não tivesse visto a figurinha com os longos cabelos vermelhos despenteados encolhida em cima do piano. "Bom, parece que ela não está aqui..." e começou a tocar. Era como se ele e o piano fossem uma coisa só.

(não terminei de digitar, depois posto o resto.)

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